RALISWRC

Rali de Portugal sai da Porta Férrea em Coimbra

A cidade da Lusa Atenas terá honras para a cerimónia da partida da competição desenhada pelo ACP para 2019, edição marcada pelo regresso às provas especiais da Lousã, Góis e Arganil.

CARLOS SOUSA (carlos.sousa@autolook.pt)

O Vodafone Rali de Portugal, na estrada de 30 de Maio a 2 de Junho de 2019, já fervilhar de exaltação, sobretudo na região Centro do país. E tudo porque a prova do ACP Motorsport terá na Porta Férrea, entrada para a Universidade de Coimbra, a saída oficial da prova mundialista portuguesa, com a particularidade de regressar a classificativas emblemáticas e palcos históricos, nomeadamente Arganil, Góis e Lousã.

Trata-se de uma região que, nos últimos anos, tem gerado grande entusiasmo para integrar o programa do Campeonato do Mundo de Ralis (WRC), depois de, em 2001, ter deixado “fugir” a caravana para outras paragens – até 2007 a prova do ACO Motorsport pontuava, somente, para o Campeonato de Portugal.

Refira-se que tem havido uma enorme onda de paixão provocada por uma legião de adeptos a “reivindicar” um esforço da organização para que a prova regresse ao Centro do país. Apesar do sucesso da prova, o futuro do Vodafone Rali de Portugal é sempre uma incógnita.

Os apoios vão escasseando e, fruto da retirada dos municípios de Caminha e Viana do Castelo, dado não terem condições para suportar o investimento necessário, o Automóvel Club de Portugal (ACP) teve de encontrar alternativas e “ceder” à “pressão” para alimentar o regresso da prova no Centro.

Fontes ligadas à estrutura organizativa confidenciaram que, na quinta-feira (30 de Maio), a prova terá o shakedown em Baltar e a partida oficial na Porta Férrea, na Universidade de Coimbra. Na sexta-feira (31 de Maio), pilotos e máquinas terão pela frente dupla passagem por Arganil, Góis e Lousã, terminando o dia com a super-especial em Lousada.

No sábado (1 de Junho) está prevista dupla passagem por Vieira do Minho, Amarante e Cabeceiras de Basto, cabendo a Vila Nova de Gaia acolher a “superespecial” citadina que na edição do ano passado esteve no centro do Porto, existindo entre as duas cidades uma lógica de alternância.

Finalmente, no domingo (2 de Junho) serão servidas as derradeiras emoções da prova portuguesa do WRC nas míticas especiais da região de Fafe, com o centro nevrálgico da prova nas instalações da Exponor, em Matosinhos

Mais de cinco meses do início de mais uma edição do Vodafone Rali de Portugal – duas semanas mais tarde que nos últimos anos – ainda existe pormenores importantes a resolver por algumas autarquias, sobretudo ao nível de desenhar especiais em pisos de terra.

Refira-se que a alteração da data prende-se com a entrada do Chile para o calendário, o que faz com que a prova do ACP passe a ter lugar entre 30 de maio e 2 de Junho. A ronda portuguesa passa assim a ser a sétima da época, depois de Monte Carlo, Suécia, México, França, Argentina e Chile, outra das grandes novidades de um calendário que cresceu para 14 jornadas.

Após a jornada do ACP, que continuará a ser vista como a primeira verdadeira prova de terra da época, seguem-se Itália, Finlândia, Alemanha, Turquia, Inglaterra, Catalunha e Austrália.

RALI DE PORTUGAL “DEIXOU” O ESCUDO E CENTRO EM 2001

O vigoroso temporal que fustigou o país no longínquo ano de 2001, deixou as estradas de piso de terra impraticáveis para a passagem das viaturas e, os pilotos, a revelar que nunca tinham disputado provas especiais naquele tipo de condições, quer ao nível de aderência, como de visibilidade. Um cenário que, para a Federação Internacional do Automóvel (FIA), foi o pretexto para afastar o TAP/Rali de Portugal do Mundial, sem apelo nem agravo. Precisamente no último ano em que o Euro veio substituir o Escudo.

O mau tempo foi o “bode expiatório” para este desfecho, mas todos se recordarão que, na altura a “gigante” Alemanha tinha legítimas pretensões para entrar no campeonato, até porque a economia alemã, aliada à implacável proporção do mercado automóvel, foi fundamental para “chumbar” os portugueses e promover os germânicos.

Sem o “selo” mundialista, o Rali de Portugal esteve na iminência de “viajar” para o Algarve, mas foi em Trás-os-Montes, mais precisamente em Macedo de Cavaleiros, que assentou arraiais por três anos consecutivos, agora ligado ao operador TMN. Em mente esteve sempre o regresso ao Mundial. Mas tudo era feito com alguma inércia.

Em 2004, Carlos Barbosa, candidatou-se à presidência do ACP e, como que a dar um “murro na mesa”, prometeu o regresso do Rali de Portugal ao escalão máximo do calendário mundial da especialidade. A tarefa não ostentou facilidades. Bem pelo contrário. O cenário apresentava-se enegrecido e havia muita gente que desconfiava do prometido.

Carlos Barbosa, no entanto, nunca virou a cara à luta e, como o prometido é uma missão para levar até ao fim, o homem do leme no ACP arregaçou as mangas e, com a sua equipa, interpretou à risca as exigências da FIA e, numa operação de elevada mestria, conduzindo a edição da prova de 2005 para o Algarve.

Num território muito favorável a férias, as únicas toalhas utilizadas na prova daquele ano era para limpar o suor do rosto. O trabalho era intenso, mas na calha estava a tão proclamada promessa. Para trás ficaram as especiais do Centro e Norte, tudo porque o caderno de encargos da FIA estava sublinhado a vermelho, obrigando a uma competição compacta, acessos rápidos e eficientes, um aeroporto por perto e capacidade hoteleira capaz de albergar milhares de pessoas.

O Algarve acabou por ser o ponto de partida para novos capítulos de emoções fortes, contando para isso com a região do Baixo Alentejo para levar a bom porto a promessa encetada em 2004. A candidatura foi formulada no ano anterior e, em Março de 2007, o Rali de Portugal, associado à Vodafone, voltou a receber a nata do WRC.

A rotatividade nas provas do WRC obrigou a prova lusitana a ficar em “stand by” em 2018, mas integrado no IRC, campeonato criado pelo canal Eurosport, onde correm veículos da classe S2000. Até 2014, o Vodafone Rali de Portugal fez sempre escala no Algarve, mas nova promessa de Carlos Barbosa, permitiu ao “homem forte” do ACP a conduzir de novo a “sua” prova a Norte, em 2015, com o centro nevrálgico na Exponor, em Matosinhos, até hoje.

Este ano, a prova portuguesa do WRC regressa na máxima força ao Centro do país. Um desígnio de vários autarcas que, entretanto, saíram de cena, mas que nunca perderam a esperança de ver o Rali de Portugal nos seus territórios. Em finais de Maio e princípios de Junho novos episódios vão revalorizar memórias, sobretudo aqueles que sentiram de muito perto as emoções e entusiasmo da prova portuguesa.

 

Partilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *